O cinema brasileiro tem crescido expressivamente nos últimos anos. Em números, cada vez mais o país tem criado novos longas-metragens. Em decorrer disto, o Brasil já teve algumas oportunidades de concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar, mas não levou o prêmio. Para o próximo ano, o Brasil vê novamente essa chance, com o filme “O ano em que meus pais saíram de férias”, que está concorrendo a uma das cinco vagas para a disputa da estatueta. Porém, apesar do crescimento, o cinema nacional sempre foi visto com maus olhos e julgado como de má qualidade. A duvida que fica no ar é essa: O Brasil faz filmes apenas para tentar ganhar o Oscar ou realmente visa à qualidade?
Para tentar esclarecer, contamos com a colaboração de três entrevistados. Entre eles, o renomado cineasta Fernando Meirelles, sócio da O 2 filmes, diretor de grandes filmes como Domésticas, o Jardineiro Fiel e Cidade de Deus, Marcelo Izidoro, mais novo nessa empreitada de cineasta, mais conhecido como “Marluco” e o crítico cinematográfico desde 1978, Carlos Alberto Mattos.
Para Meirelles o cinema brasileiro não pode ser caracterizado como de qualidade ou não. Para ele, existem muitos filmes de qualidade e outros não, como tudo que existe na vida. Já Marluco afirma que o cinema nacional sempre teve qualidade, mas que hoje parece ter mais, pois a nova geração de cineastas está buscando recursos para a realização de seus projetos fora do país. Isso faz com que o produto tenha uma finalização diferenciada para o mercado mundial e não apenas brasileiro.É ai que parece que a qualidade aumentou, mas o que ocorreu mesmo foi uma mudança no foco dos realizadores. Para o critico Mattos, a partir dos anos 80 o cinema brasileiro passou a só ter qualidade de conteúdo, como técnicas que aproximaram o cinema nacional do europeu.
Quando questionados sobre as intenções do cinema brasileiro, Meirelles e Mattos concordaram. Ambos acham que ninguém faz cinema visando o prêmio do Oscar. Para eles, isso é uma conseqüência e não um objetivo. Para o crítico uma coisa não exclui necessariamente a outra. Embora o Oscar seja uma aspiração de qualquer produtor ou diretor, ele não acredita que no Brasil seja feito filmes pensando especificamente na premiação. Pode-se, muitas vezes, pretender chegar ao mercado internacional, o que, é legítimo e necessário para a economia cinematográfica. Meirelles também pensa assim: “Jamais encontrei algum colega que tenha feito um projeto pensando em Oscar. Ninguém diz: quero fazer um filme bem vagabundo”. Porém, Marluco pensa diferente. Para o novo diretor, a maioria dos realizadores brasileiros faz fimes visando o “próprio umbigo”. Segundo ele, em um país onde se produzem mais de cem longas metragens por ano e tem uma média de 20 a 30 lançamentos no mesmo período, existe alguma coisa errada. Então, surge uma nova categoria de filmes surgindo, que não é a de “filme criado para o Oscar”, nem a de “filme de qualidade”, e sim a nomeada por ele como a dos filmes “visando ser vistos”.
Entre os longas brasileiros de qualidade, foram citados pelos diretores e pelo critico “Tropa de Elite”, “O Ano em que meus pais saíram de férias”, “Jogo de Cena”, “Cidade dos Homens”, “Mutum” e “Contra Todos”.
O jovem diretor, Marluco, disse que Tropa de Elite, entre esses citados, é o que mais foi pensado como filme para chegar ao Oscar e que “O ano em que meus pais saíram de férias” é o de maior qualidade. Porém por ironia do destino eles inverteram seus papéis. Agora é esse ultimo que tem a chance de chegar a estatueta. Mas é claro, esse é um caminho muito difícil. Para Mattos, o filme não conseguirá, pois é muito pequeno, o roteiro contém falhas e possui interpretações razoáveis. Porém ele afirma que a academia pode gostar do filme, e isso não tem como prever. Já para Meirelles a conquista depende do investimento que vem sendo feito, da campanha do filme. Para ele, o trabalho de bastidor conta mais que o valor do filme. Por fim, Marluco discorda de Mattos quanto ao roteiro, o qual ele julga fantástico. Além disto, para ele, o tema é muito propicio aos interesses da academia do Oscar: “Eu acho que pode disputar uma vaga de igual para igual sim. Agora se vai ganhar ou não... aí é outra história”.
Crédito da Imagem: http://www.thegazz.com/blogs/gazznotes/uploaded_images/OSCAR-714660.jpg